Cambones
O Cambone é o médium que auxilia na realização das consultas, que são ofertadas pelas entidades que trabalham no terreiro, por intermédio do médium de consulta (toco).
O trabalho que o Cambone realiza é tão importante quanto o do médium de toco e da entidade que dá a consulta. É o elemento que facilita a ligação entre o guia e os consulentes, atuando de diversas maneiras (como a seguir será descrito). Sua função é de grande responsabilidade e importância.
IMPORTÂNCIA DA FUNÇÃO DE CAMBONE
Desenvolvimento espiritual:
Cambone é um médium e, como todo médium, tem predicados que estão a serviço de seu próprio desenvolvimento espiritual e da espiritualidade. Esta função permite desenvolver, em especial, a mediunidade intuitiva. Ainda assim, outras formas de mediunidade (auditiva, visual, de incorporação, entre outras) também podem ser desenvolvidas.
Ser cambone é uma escola, um aprendizado sem fim. Aos atentos, faz aumentar a fé, descobrir-se, se sentir amado e especial. Essa função é uma das melhores formas de desenvolvimento mediúnico.
Auxílio para o trabalho da entidade:
Cambone é o braço direito do médium de toco. Sua atuação garante a organização do trabalho, ao facilitar o acesso e o manuseio de materiais de trabalho. Também garante a relação funcional entre consulente e entidade, pois traduz as linguagens (dos guias e de consulentes) e auxilia na interpretação das falas. Em razão disso, há uma relação de confiança entre entidade e cambone, gerando (com muita frequência) uma conexão bastante forte entre eles.
Garantidor das regras da casa:
O médium (quando incorporado com a entidade que fará a consulta) não está totalmente autônomo. Assim, o cambone é quem garante que as regras da casa estejam sendo seguidas.
ORIENTAÇÕES PARA OS TRABALHOS
ANTES DA GIRA
Conversar com o médium parceiro sobre as formas de trabalho das Entidades, materiais, pontos e particularidades necessárias para estar com tudo pronto antes da gira começar.
Na impossibilidade de vir à gira, deve avisar o dirigente e/ou o médium a quem assiste.
DURANTE AS CONSULTAS
Ter papel e caneta para anotações.
Ter organizado o material, conforme as orientações de cada entidade.
Zelar pelo cumprimento das regras da casa.
Auxiliar Entidades e Consulentes com relação ao entendimento da comunicação, prescrição de banhos, amalás, necessidade de retorno, etc.
Caso a entidade se levante, deve ficar atento às necessidades dela e do trabalho, sem se ausentar do ponto; quando necessário, acompanhar o consulente até o meio, seguir de prontidão, procurando não atrapalhar os demais.
O cambone não faz transporte ou incorpora durante o atendimento (a menos que tenha autorização da entidade chefe da casa).
Manter sempre o SIGILO, preservando a identidade do consulente e os problemas pelos quais está passando. Não se deve comentar as consultas. Se preciso, somente de forma impessoal.
O sigilo só pode ser quebrado para a hierarquia e diante de situação que indique condutas que estão fora das regras da casa.
Ficar atento para evitar desrespeitos entre o consulente e entidade através de palavras, testes, pedidos fora de propósito ou que possam inteferir no livre-arbítrio.
O cambone só deve interferir caso a entidade sinalize ou em situações de desrespeito às regras da casa.
DEPOIS DAS CONSULTAS
Depois que "subir" a Entidade que trabalhou, apagar as velas do ponto, tirar os ponteiros e elementos, descarregar a tábua com água ou a bebida da entidade.
Retomar sua posição na gira, concentrando-se nos pontos, cantando, vibrando em harmonia com a corrente. Se for o caso, dar passagem para incorporação, seguir o fluxo do trabalho e determinações do dirigente.
REGRAS DA CASA
Não há cobrança de espécie alguma, visto que esta é uma Casa de Caridade.
Os trabalhos são feitos no terreiro, exclusivamente nas giras.
Não se faz: nada para o mal, amarrações, premonições de morte ou azar e nem se fala em traições.
Não se trabalha com sangue nem animais.
É indicado não fazer consultas sem cambone.
Ter compromisso com os assistidos (encarnados e desencarnados) que buscam ajuda. Todos devem ser tratados com esmero, dedicação e educação, buscando sempre o não julgamento (sem preconceitos).
CICLO DO CAMBONE
Para se tornar um cambone, qualquer um dos médiuns da casa que tenha interesse deve anunciar sua intenção à hierarquia física do terreiro. Paralelo a isso, deve buscar compreender a responsabilidade da função, bem como suas atribuições. Usualmente, o cambone terá fixo um médium de toco com quem irá trabalhar.
Quando deixar de atender permanentemente a um determinado médium, deve anunciar ao médium de toco (a quem prestava assistência), assim como deve cercar-se do cuidado da transição dos afazeres ao novo cambone.
DÚVIDAS
Caso ocorra a situação de um consulente “dar passagem” a uma incorporação, sem que o médium de trabalho tenha “puxado”, o que faço como cambone?
Mantenha a calma e a prece mental; cabeça firme; pensamentos elevados. As entidades que lhe assistem também estão ali, auxiliando nos trabalhos. Observe e procure entender o porquê aconteceu o fato.
Se o consulente é um médium de incorporação e deu passagem, a entidade que estiver atendendo irá fornecer as diretrizes. Depois que aquele espírito expressar o que deseja falar, a entidade do médium de toco pedirá para ele descarregar o médium e subir. O cambone deverá orientar o assistido incorporado, sempre com educação e respeito.
A entidade do médium de trabalho pediu para o consulente fazer um trabalho diferente das orientações que seguimos no terreiro, o que faço como cambone?
Conversar, imediatamente, com a entidade (por intermédio do médium de trabalho), com respeito e discrição, frente ao consulente. Caso persista a dúvida quanto ao ocorrido, buscar a orientação com o dirigente / hierarquia.
ORIENTAÇÃO TEÓRICA SOBRE A FUNÇÃO
Respeitadas as diferenças de tempo, bem como das práticas específicas adotadas na Casa do Vô Benedito, tem-se como inspiração as palavras do Pai Edmundo Rodrigues FERRO, uma das ancestralidades das mais antigas desta Casa (e da história da Umbanda em Curitiba) que, em 1987, enquanto Pai de Santo na Tenda São Sebastião, escreveu:
“Devemos considerar das mais importantes as funções de cambone ou cambono na Umbanda. Da sua capacidade, da sua honestidade e acima de tudo da abnegação que ele deve aos Guias e no atendimento correto ao médium, estará certamente positivada a grande possibilidade de êxito nos trabalhos mediúnicos.
Sendo o cambone também um médium, que apesar de não incorporar durante os trabalhos em que o cavalo estiver possuído pelo Guia, a ele estará afeta grandes responsabilidades aos predicados acima.
Para aqueles que desconhecem o significado ou mesmo as atribuições do cambone, devemos esclarecer que ele é o elemento de ligação entre o Guia e o Consulente, sendo também o tradutor e interpretador das determinações, transmitindo ao Ogan todas as ordens do espírito a que está servindo.
O cambone é a complementação do cavalo nos trabalhos de Umbanda. Um bom cambone inspira ao médium segurança e tranquilidade física, podendo conceber a incorporação.
Compete ainda ao cambone zelar pelo material de trabalho, o qual deverá ficar sob sua guarda, numa valiosa colaboração, tanto para si como no atendimento ao Guia, evitando desta maneira falha no atendimento material.
Contrariando o pensamento de alguns umbandistas, achamos de bom alvitre que o médium deva escolher seu cambone, sendo este de preferência elemento de suas relações de amizade, para que as vibrações sejam uníssonas e para que haja entre ambos uma afinidade espiritual, onde suas vibrações se entrosam num perfeito equilíbrio.
Como dissemos, o cambone também é um médium, tendo forçosamente outras faculdades mediúnicas, dentre estas a mais comum é a de sensitivo auditivo, com aguçada percepção.
Ele deverá sempre manter o maior sigilo com relação aos trabalhos, bem como sobre todos os assuntos tratados durante os mesmos. Jamais poderá usar do espírito do cavalo ou dos trabalhos para recompensas materiais ou tirar das situações do consulente em benefício próprio, qualquer proveito.
O conhecimento dos rituais e o conhecimento da Lei, o discernimento nos trabalhos, a dedicação e o cumprimento das determinações recebidas fazem do cambone uma das peças mais importantes, colocando-o em uma igualdade de condições com o médium em relação aos trabalhos de Umbanda.”
FERRO, E.R. Eu e a Umbanda, Allpaper, Curitiba:1987 In Apostila TPM s/d.
A aprendizagem como cambone é intensa.
Compartilhe os ensinamentos recebidos, assim todos crescem.
REFERÊNCIAS
Apostila de Cambones. Terreiro do Pai Maneco. s/d
Orientação aos Cambonos do Templo Espiritual Mata Verde - http://mataverde.org/arquivos/palestra_cambonos.pdf 2013